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quinta-feira, 9 de julho de 2009

RPG e Ouro Preto: A vitória do Bom Senso.

(Este texto está atrasado, eu sei)
A absolvição dos réus do homicídio de Aline Soares, ocorrido em 2001, em Ouro Preto, neste domingo foi uma vitória do bom senso e da justiça contra a ignorância e o preconceito. Os suspeitos foram inocentados por insuficiência de provas. Resultado previsível, em vista das “evidências” usadas contra eles; “livros satânicos”, material de RPG, um pôster do filme “O corvo”, uma gravação feita para um evento acadêmico e revistas em quadrinhos. Entre os livros que a polícia considerou como “satânicos” durante as investigações em 2001, estavam livros de Nietzche e “O livro de Nod”, uma obra de ficção.
Durante todo o processo, foi claro o motivo pelo qual os quatro jovens foram incriminados: eles não eram “normais”. Seu comportamento, vestuário e gostos diferenciavam demais da média. A tentativa de relacionar o RPG, um jogo que estimula leitura, imaginação e socialização, com os crimes não apenas foi movida por preconceito e ignorância, demonstrando total desconhecimento do que é RPG, como também foi completamente falsa no sentido de que apenas um dos réus o jogava.
Ouro Preto não foi a primeira vez que o RPG foi forçadamente jogado no banco dos réus, ou que inocentes foram incriminados por serem “anormais”. Em 2000 Iara dos Santos Silva, de 14 anos, e Fernanda Verâncio Ramos, de 17 foram assassinadas em Teresópolis. Rapidamente, a imprensa e a polícia culparam o RPG, que na ocasião foi chamado de “jogo da morte”. Uma semana após a prisão de um jogador da região, efetuada em cima da crença desinformada que moveu o julgamento em Ouro Preto, de que o “perdedor” em RPG paga com a vida, o jardineiro Humberto Ventura de Oliveira confessou os crimes. Apesar de Humberto jamais ter sequer tocado em um livro de RPG, o caso foi usado como evidência durante as investigações da morte de Aline Soares, e nenhum dos jornais que publicou a tese do “jogo da morte” emitiu sequer uma nota de retratação.
Lamentavelmente, não houve reações indignadas em nenhum desses casos. As reações gerais, tanto no caso de Ouro Preto quanto em Teresópolis foram complacentes com as acusações infelizes e desinformadas. De maneira similar ao que ocorreu no massacre de Columbine, simplesmente se aceitou a idéia de que um crime atroz como estes pudesse ser causado por um jogo, e que este seria o único fator relevante. A disposição do Ministério Público em ignorar as evidências de que Aline Soares tivesse usado drogas no dia em que foi morta, assim como a implicação da polícia, de que eram quatro assassinos, quando o laudo do legista indicava um único agressor, demonstram como as pessoas facilmente levadas por aquilo que desconhecem.
A falta de informação levou a projetos de proibir o RPG no Brasil, algo que tem um nome, censura. Enquanto não lhes afeta, ninguém parece notar o quão errado isso é. Usar a posse de livros ou hábitos “anormais” como evidência de crime, sem ter evidências concretas, abre precedentes extremamente perigosos para a justiça. Essa absolvição nos permite respirar aliviados, afinal, não precisamos mais temer os livros que temos em casa.
Pedro Henrique Leal, Estudante de Jornalismo, e jogador de RPG a 14 anos.

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